Estimule a curiosidade



A palavra curiosidade tem origem latina e significa desejo de saber, de desvendar, de ver. Nenhuma outra palavra tem uma relação tão direta com a infância. Aristóteles dizia que “todo homem tem o desejo de conhecer”. Esta sábia sentença se confirma na experiência, principalmente no convívio com crianças.

A curiosidade infantil é um fenômeno tão comum quanto necessário para o desenvolvimento da criança. Nesta fase de aprendizado contínuo e intenso, suas dúvidas são exatas expressões do que precisam para compreender algo que atraiu a sua atenção.

O desejo natural e instintivo de conhecer e entender as coisas que cercam a vida de uma criança, que genericamente podemos chamar de curiosidade, se manifesta gradualmente e passa por todos os sentidos.

No primeiro ano o bebê direciona sua curiosidade para processos interiores, que de alguma forma tentam entender a existência e se adaptar a este novo universo, tão diferente daquele onde passara metade da sua vida.

Embora com todos os sentidos ativos, neste período de “descobrimento” do “novo mundo”, o bebê importa-se pouco com o exterior, apenas o necessário para expressar a evolução da sua adaptação.

Ao final deste primeiro ano as coisas começam a mudar, quase sempre de maneira apressada. Os pequenos agora parecem muito mais atentos e entendem melhor os estímulos recebidos pelos órgãos sensoriais. 

Olham para tudo o que se move e estão bem alerta aos ruídos, principalmente vozes conhecidas.

A evolução deste período inaugural da curiosidade infantil leva à fase mais evidente do interesse da criança em entender o desconhecido, a fase do “por quê?”.

Nesta fase tão interessante as crianças são capazes de séries infinitas de perguntas, muitas delas impossíveis de serem respondidas. Algumas pessoas interpretam de maneira equivocada estas perguntas, muitas vezes proferidas em locais ou momentos inconvenientes, e as reprimem. Estas manifestações de curiosidade, guardadas as orientações de praxe, devem receber tratamento exatamente contrário.  Responder sempre que possível às perguntas das crianças contribui para sua compreensão da realidade em que vive.

Respostas pacientes e didáticas são extremamente importantes para auxiliar na ordenação da avalanche de conhecimentos adquiridos pelas cabecinhas em tão breve tempo. Quase sempre as melhores respostas são as mais sintéticas, mas podem ser um pouco mais longas quando a complexidade da pergunta exigir.  Não se deve estranhar, no entanto, se no meio de uma explicação a criança demonstrar completo desinteresse pela resposta, mesmo depois de uma seqüência de perguntas. A efemeridade e mudança brusca de direção são características muito presentes na curiosidade infantil. Muitas vezes uma pergunta feita por uma criança busca uma resposta muito diferente do que imaginam os adultos. Perguntas aparentemente sem sentido também ocorrem pelo mesmo motivo.

Conviver com crianças costuma trazer experiências marcantes nesta fase da curiosidade à flor da pele. Perguntas inconvenientes, analogias geniais e a incrível memória para detalhes irrelevantes quase sempre deixam lembranças muito agradáveis e muitas vezes engraçadíssimas.

Assim como a curiosidade das crianças não se resume a perguntar, além da paciência e empenho nas explicações existem outras formas de nutrir e estimular esta curiosidade. De certa forma, pode-se afirmar que toda interação que a criança faz com o mundo ao seu redor é movida ou permeada pela curiosidade.
 A partir dos dois anos e durante toda infância a criança torna-se mais curiosa e utiliza todos os sentidos como forma de conhecer o ambiente. Coloca na boca tudo que encontra, a mão onde não deve, olha e ouve tudo e está sempre atento a qualquer cheiro. Na infância os sentidos estão particularmente mais aguçados, mas dedicam-se a uma compreensão mais prática e objetiva e menos reflexiva.

Seja ao observar os adultos do seu convívio, seja  nos jogos e brincadeiras ou nas estórias que ouvem com profundo interesse, a curiosidade infantil está presente  no cotidiano da criança, de forma a preencher suas dúvidas, mesmo aquelas que ainda não foi capaz de formular verbalmente.

Cada vez que a curiosidade de uma criança é satisfeita, mais subsídios ela terá para enfrentar a próxima dúvida e assim sucessivamente, formando uma estrutura de conhecimento que vai se ordenando á medida que compreende cada nova parte, cada novo aspecto da realidade. Este conhecimento acumulado nunca é completo e nem se acumula ordenadamente, o que exige permanente confirmação e dá origem a novas e infinitas dúvidas.

O processo de nutrir a curiosidade com mais curiosidade é instintivo e, portanto, natural, o que torna o estímulo à curiosidade infantil uma maneira eficiente e segura de fortalecer a capacidade intelectual da criança.

Estimular a curiosidade infantil de maneira mais ampla pode enriquecer suas capacidades cognitivas, sua criatividade e sua imaginação, além de tornar a criança mais segura e menos suscetível a dificuldades no aprendizado. Contar estórias, incentivar jogos e desafios, e principalmente dar atenção às sua curiosidade contribuem com a formação da personalidade e definição do caráter.

Texto desenvolvido para Revista Bebêmix

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